Coordenadora - Naide Aparecida Iucif

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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

No semestre passado (1/2012), tivemos a oportunidade de trabalhar, nas aulas de Produção de Texto, com o gênero narrativo. As propostas oscilaram entre as diversidades narrativas, contribuindo para uma maior capacidade de criação ficcional. Segue uma das produções, desenvolvida pela aluna Carla Evanise Machado D'Espírito.

                                                               SUPERWORLD”

            Todas as manhãs eram as mesmas: Ícaro acordava com o cantar dos pássaros cintilantes e com o brincar dos pequeninos gnomos azuis que habitavam o vasto jardim da casa onde morava. Gertrudes, a única vaca do vilarejo que produzia leite adoçado, chegava sempre no mesmo horário para completar o café matinal.
Ao sair para o trabalho, o rapaz sentia sempre o mesmo perfume das orquídeas e margaridas vermelhas, que nasciam nas grandes árvores, cumprimentava as felizes e sapecas crianças que trilhavam o caminho da escola, acompanhadas pelos seus cãezinhos de estimação dourados. Cada uma delas tinha o seu para brincar e fazer-lhes companhia. 
            Tudo para Ícaro era tão igual, tão normal. Desejava mudanças, ir além dessa vida, que para ele era simples, rotineira, sem graça. Queria ser mais belo, pois até então não despertava o interesse de nenhuma garota, ainda menos de Luciana, rapariga da sua terra, por quem era apaixonado e com quem queria se casar e ter seus filhos. Queria mudar sua imagem, já não suportava ser um jardineiro pacato, franzino e peludo, que vivia cercado por flores e animais exóticos. Almejava ser conhecido, admirado.
            Certo dia, quando trabalhava no jardim de uma casa mágica e distante, encontrou entre as plantas uma pequena fonte de água de cores múltiplas. Sentiu-se atraído por elas e, hipnotizado, conseguiu ver uma estranha passagem para outra dimensão. Assustado, porém curioso, passou por ela, sendo transportado para outro mundo.
            Ao se encontrar na nova dimensão, ainda tonto com o efeito da passagem, Ícaro ficou perplexo com as imagens que viu: vários homens fortes, carecas, musculosos, sem nenhum pelo no corpo. Todas as mulheres tinham o corpo escultural e cabelos lisos. Ficou encantado com o físico dos habitantes e com sua agilidade e disposição. Eram eletrizantes.
            Estava dentro de um lugar repleto de aparelhos, os quais ele não conhecia: eram caixinhas com imagens e sons, coordenados por botões os quais as pessoas apertavam para comandá-los e tudo acontecia num passe de mágica: portas abriam, vozes saíam das caixas, tudo automático.
            Logo foi recebido por Monique que, observando o seu espanto e atenta ao seu porte físico, disse:
            - Você veio do Old World? Com esse corpo franzino e peludo só pode ser.
            - Não sei como vim parar aqui. A terra em que moro é muito diferente dessa. Há flores, animais e árvores por todos os lados. Aqui não há nenhum verde. No entanto, aqui há muitas mulheres bonitas e homens fortes, as pessoas têm uma disposição  incrível.
            - O que são flores, árvores e animais?Bem deixa pra lá. Devem ser maluquices do lugar de onde veio. Não se espante. Aqui é só um museu da nossa terra. Os equipamentos são ultrapassados. Lá fora há tecnologias bem mais avançadas. Só que os homens e mulheres são atuais.  Venha comigo, precisamos realizar grandes mudanças em você. Seja bem vindo ao Superworld.
            Ícaro seguiu Monique, que o levou para uma sala onde havia alguns vidros grandes, com formato cilíndrico, contendo várias cápsulas brilhantes dentro dele. Ela disse:
            - Tome uma dessas cápsulas mágicas e você se sentirá bem diferente.
Embora assustado, ele arriscou tomar uma cápsula. O efeito foi instantâneo. Estava radiante, forte, seu raciocínio estava além do normal. Saltava por todos os lados, sentia-se um herói. Experimentava uma sensação incrível.
Monique, vendo sua reação, disse a ele:
            - Fique conosco e se sentirá bem todos os dias.
            - Ícaro foi acomodado próximo à casa de Monique e dormiu ali. Na manhã seguinte, estava cansado, deprimido, então pediu nova cápsula mágica para ela, que não hesitou em atender ao seu pedido.
Esse processo se repetiu por uma semana. Ícaro já estava forte, havia assumido as características dos outros habitantes. Estava tudo conforme ele desejava: cercado por mulheres, nada de plantas nem animais por perto. Havia apenas pequenas máquinas chamadas Robotics, as quais tinham rodas nos pés e eram programadas para agradarem seus donos apenas quando estes desejavam. Também não havia necessidade de cozinhar. Os alimentos eram apenas pequenos discos pequenos, com sabores artificiais que cresciam em apenas alguns segundos, ao serem colocados numa caixa.
            As pessoas recebiam um “check-in” por serviços prestados ao “Olho-que-tudo-vê”, governante do Superworld, e gastavam com cápsulas brilhantes, para se sentirem fortalecidos e revigorados para o trabalho, além de usarem para comprar discos de alimentos e  com a compra  dos  Robotics.
            Não havia casamento. As mulheres podiam namorar quantos homens quisessem e vice-versa. Também não havia crianças. Os homens eram gerados todos já adultos, em incubadoras especializadas.
 Cheio de si, Ícaro já achava que não precisava de nenhuma Luciana, pois tinha quantas mulheres quisesse. Tudo para ele era diferente, todos os dias sentia-se forte, poderoso, belo e conquistador. Também não trabalhava, pois até então Monique sustentava suas regalias. Mas eis que certo dia, ela não pôde fornecer a cápsula brilhante, pois a moça não fora encontrada em sua casa, nem em lugar nenhum. Ao encontrar um de seus vizinhos, o novo habitante questionou:
-Daniel, onde posso encontrar Monique?
- Desista! - respondeu o vizinho - Ela foi capturada pelo Olho-que-tudo-vê, pois era a maior divulgadora da cápsula brilhante e começou a recusar-se a continuar distribuindo às outras pessoas após descobrir que, sem elas, os seres do Superworld não querem mais viver da maneira que vivem, querem procurar outros mundos ou então fazerem uma revolução. Tentou fugir daqui, mas o Olho-que-tudo-vê, que está em todos os lugares, conseguiu encontrá-la.
Ícaro saiu dali meio confuso e sem a cápsula. No dia seguinte, não estava se sentindo forte, nem belo, nem ágil. Questionava o motivo de todos naquele mundo quererem viver como viviam , serem tão iguais e começou a se perguntar: “Por que precisavam tanto da cápsula para se sentirem bem? E por qual razão gastavam seus “checks-ins” em comidas artificiais e não tinham alimentos naturais? Naturais? Nem havia árvores, nem frutos, nem verde...Não havia animais e todos tinham que pagar e programar o afeto de um Robotic. E o romance? Todos homens tinham quantas mulheres quisessem...E Luciana?”
Ícaro desejou voltar para o Old World, para Gertrudes, para seus jardins, seus gnomos azuis, as crianças e os cãezinhos, para Luciana. Mas, como voltar? Não havia jardim para encontrar a tal fonte. Pensou, pensou, tentando relembrar onde estava o lugar por onde fora transportado. Recordou que estivera no chamado museu e lá retornou. Entre várias parafernálias chamadas de equipamentos eletrônicos, encontrou uma raridade: uma pequena árvore, por trás de um vidro e, nas suas costas, uma fonte.
O Olho-que-tudo-vê tentou aprisioná-lo e persuadi-lo a ficar e viver com os outros, mas sua força interior e seu desejo de voltar foram maiores, lutou o máximo que pode  e  conseguiu fazer a passagem de volta. No entanto, o Olho jurou:
- Não admitirei mais falhas no nosso sistema! O trabalho de todos aqui é manter tudo como está e tentar trazer o máximo possível dos fracos e oprimidos daquele “Old World” pra cá e fazer com que eles concordem com tudo sem ousar em pensarem!
Ao ouvir os ecos do Olho do lado de lá, Ícaro apressou-se em pedir ajuda para fechar o acesso à pequena fonte com gigantes pedras para que ninguém jamais pudesse ter a tentação de conhecer o lado de lá.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

POEMA DO ALUNO LUIZ BRAGA, DO SEG. PERÍODO DE LETRAS - DIURNO

Basta olhar nos teus olhos,

Rugem emoções dilacerantes.

Umas, talvez tu acolhes.

Noutras serás errante.

Ah! Emoções de amantes.

 

Saiba o quanto fiquei feliz,

No instante em que te conheci.

Não sabia, também notei,

Tantos sonhos, os quais teci.

Origem de colos que afaguei.

Sussurros de lençois que não dormi.